vem tu
nada mais
(in)vento

- nada mais !
(eu digo)
e atravessa
tudo que não vem


.


a quadrilha, drummond...




eu preciso esquecê-la
para dançar


.
:



eu sou uma gaiola aberta




.
'

atravessar de uma
margem
à outra
todo dia
meu trajeto
dentro de mim
assim se faz
entender múltiplas vozes
que dentro
insinuam coisas
e
colocá-las para dialogar

a temperatura é instável
nem
as águas
nem
as margens
nada permanece inalterado.

o esforço nasce para acalmar os nervos
que rangem

estranho como tudo é tão intenso
não seria - pelo contrário
só ir à praia
olhar o mar
e gostar de não entender?

seria
se fosse



não é.


'
...


felicidade é só
quando
esquecer de si mesmo

e
de repente
vai saber?
num banho quente
numa caminhada de manhã bem cedo
no alto de um monte
ou escada
tomando um chá
uma coca-cola
ou
sentada no chão
a pessoa
de repente
não pensa não deseja não teme não lembra
a pessoa pertence
- não a si mesma
mas ao momento sim
que passa
transpassa
atravessa
e dança
então.

quando regressa
e atenta
lembra
que foi feliz

felicidade é quase sempre antes
no exato momento
raramente se sabe.



...




:



como reconhecer as horas
fechadas
e
abertas
o passo dado
os dados jogados

destino?

a garantia
é
o contínuo movimento
que leva
adiante
(aonde?)


para não doer
para doer
diferente
transpor a dor
essa dor recorrente
que sai da minha boca.
que não sai da minha boca.




...
.




nenhum gol
muito sol (e daí?)
grande frio

um inverno qualquer
mais um
nem sei se já

um lugar pra doer
é aqui
agora

(o melhor lugar do mundo é aonde?)

se alguém perguntar
não me apresso
em saber

- disse doer?
palavra doer assim
não vejo desde os dezesete.






.

.






de quase tudo que foi escrito,
grito era,
o que havia
ali
era o que ouvia
quem a via
ali

hoje,
a voz voltou
pra dentro
e ela não diz palavra.

e se é tentando dizer
que a alma acalma
se esgota no que
por hora
consegue ser:
alto-silêncio.









.




a maior janela que posso conceber
aberta.
e uma cadeira na minha frente.

lá fora minha vida.

o convite que me faço é de reflexão
mas não me concentro

aparece aqui,
uma vontade de um lugar frio,
e
casacos, golas, lãs, meias, capuzes.

mas não é só isso que é tudo.

'onde vivem os monstros' diz sendak,
no marcador à minha frente.

eu nunca sei.
meu tio tem palavras
que eu escuto
fascinada

da família musical
(pai
avó
tia)
o meu tio tem palavras
de muitos sons

cada dia que acordo e vejo
me envaideço.

palavra é brincadeira séria
de muitas profundidades.
palavra é sentir pensando
que é um jeito lindo de sentir.
imã

na página da minha
cabeça ainda
uma idéia
não quer sair
a frase que na minha geladeira
um dia meu irmão
sabiamente
colou
(momento de perigo meu)

"life isn't about
finding yourself
life is about
creating yourself"

essa frase me salvou.


Mut
Ante




MudoDePerigoDentro



SILÊNCIO: zona per ir [ GO ]






tantoquanto



amém.
:: côncavo e convexo ::


no contorno
ainda inacabado
do pátio aberto em meu peito
um norte sem arestas
visita meu olhar

norte do tempo estendido
para além das beiras
sou para todos os lados
num sentir dilatado
um estado bruto a se lapidar
::::::::::

um desejo inofensivo
um medo que move
pra onde cai o equilibrista
quando ele não cai?

linha tênue que divisa
o espaço-tempo em que desliza
uma ponte onde só cabe um pé
e ele vai

sua vida vai entre
o 'entre' é a sua casa
no meio do porto inseguro
ele é o rei

pacto velado com o divino.



::::::::::
:

o espaço infinito não cabe no pensamento

porque
demora

e

pensar passa
como viver.

:
: amor próprio :


as almas nos fogem
facilmente.
de materia invisível
fogem
sem que percebamos.
à nossa revelia

é muito difícil parar
pra ver se alma ainda está
e distraidos com o cotidiano
sequer supomos seu roteiro

quando nos damos conta
ela está...

no egito observando umas pirâmides
em pequim brigando por uns direitos
quietinha num café em cuba

e nos sentimos tão sozinhos
que esquecemos que ela só se foi
porque também estava se sentindo só.


.
tanta coisa a dizer e no entanto
não fiz
não dormi cedo
ontem
já li o email da oficina e concordo
já folheei o jornal e não concordo
acho que estou esquecendo alguma coisa
sobretudo
assim que der eu
acho que tinha me prometido
não pensar que não posso parar de pensar que
acho que estou esquecendo alguma coisa que
era importantíssima
acho que estou esquecendo alguma coisa muito importante
que era exatamente eu dizer que
acho que estou esquecendo
acordei as sete
pedra de guaratiba é muito longe
dá pra ouvir um disco inteiro.



lembrei
a palavra




per
de
te.
sentido
contido

uma esperança morta na janela
uma esperança viva de um lado pro outro

minha casa tem tido isso
:

minha presunçosa intuição..

se põe a traduzir a sombra da realidade
e nem espera, ela se virar,
pra se comparar à ela.



.
:

em mim

as vezes
as palavras
dormem
desocupam-se
e
apenas ouço
o som
que elas não fazem

em volta

o vento
como promessa
de sentido
ecoa

em mim
o olho de um passarinho pousou
sorrindo
e
me sabendo anti-gaiola
percebo
que ele cabe


em mim





.
.


a rua estava
deserta
depois da tempestade

uma vontade
oscilava
luzes e muros

dos tombos todos
hematomas internos
e
as coisas que se sabem

dos olhos que apareceram
uma dúvida restava
-posso?

band-aid no polegar
e todas as linhas destino
unhas cutículas veias

tudo se deu




.

descido

.


todo dia
desce a escada
pra ver se não restou
carta antiga
na gaveta

degrau todo novo

cada pedaço antigo
do que não faz mais tropeçar
não carrega

desce descobrindo
que em seu literal sentido
porão já não há
pois lá nada
resta

e
de tudo que não está
vai esquecendo



.

se vira nos trinta

:

parar de fumar
quando cigarro
é tudo que você quer

desistir
da leveza
das coisas
que não se pensam
sem desistir
da leveza

como um vício
ainda
a bola de cristal
como rédea
mas
não está tudo escrito

quando
sente
sem saber por que
sente
uma voz diz
espere
outra
toca uma canção
e
nada pode resistir

.
.



























.
:


essa interrogação,
meu desamparo.

até quando farei perguntas?

.
.






?






.
.


o medo ia

por dentro do rio

sentado em um barco

a motor


com a curva que vinha

a margem estreitinha

o chamou


tentou alcançar

o chão que ela tinha

caiu


afogou



.

auto-prestação

.

marido
filho
cachorro
quintal


eu e meu sonho da família própria


.
.



um sentimento
forte
o bastante
se permite
ser sentido
sem querer
em troca

te amendrontar?



.

clichê mastercard

.


dinheiro
compra produtos
que pessoas
vendem no anúncio
algemas
são as tvs ligadas
vendendo
as rolhas de umas almas
quem assiste
arrisca no produto conforto
que ilude
que isola
o se saber triste
pessoas se protegem
em gaiolas
pássaros
quando podem escolher
escolhem ar livre
comer consumir gastar
consola
mas não esgota
o que na alma existe




.
.

dançar treze músicas
pra não restar na estante
olhando imóvel
o relógio na parede
não há parede
que baste
quando uma decisão é tomada


.

a deus

.

que
o destino não coma
a fome:

fé pulso forte
para fazer do horizonte
algo além
de uma ilusão
de ótica


.
hai kai sem métrica



.



à beira da coca-cola
a sede
que ela não mata




.




da casa da formiga não se vê a lua
nem se sabe
se existem outras




.




fogo de vela
de curto-circuito
bota fogo é um bairro




.




dançar no escuro
só é bom
se você não é cego




.




duas medalhas
andar de mãos dadas
no vento




.
.

uma página em branco
e alguém que não consegue
dormir
seus pensamentos


horas em que é bom estar só
e as palavras concordam.

.
duas pessoas sentadas num banco de praça
o mundo-cenário
relógio tranquilo girando

o sol a pino ou se pondo
é janela.